quinta-feira, 15 de março de 2012

Redescobrindo Barra do Riacho... Parte2


Desde que criei o blog minha intenção inicial era tentar rever um pouquinho da história de Barra do Riacho, baseado em relatos, fotos, pesquisas, entre outros. O momento que estamos vivendo hoje já vivemos no passado e a história se repete numa outra época. Hoje não podemos dizer que não conhecemos Barra do Riacho, estamos vivendo na era da tecnologia avançada, da comunicação e da internet. Nesse caso seria quase impossível dizer que não se conhece Barra do Riacho. Mais sei também que dá um pouco de trabalho, pesquisar, perde-se tempo (será mesmo?). 
Então voltemos a intenção inicial e vamos "reconhecer" nossa Barra do Riacho . Gostaria que as empresas que estão chegando, os empreendimentos grandiosos, parassem um pouquinho e lessem pelo menos um pouquinho de nossa história. Queremos sim que o progresso chegue, porém que chegue da melhor forma possível para ambos empresas X comunidade. Conheçam um pouquinho de nossa cultura, nossas riquezas, nosso povo, tenho certeza que nos tratarão com mais respeito.
Quem é morador de muitos anos ou é filho de Barra do Riacho conhece bem essa casa. Muitas vezes eu quando ainda era criança, visitava a Casa Grande também conhecida e explorada por nós crianças como a "Casa Assombrada". Quantas histórias engraçadas, de aventuras, uma delícia.
É uma pena que permitimos que nossa cultura nosso patrimônio histórico se acabasse com o tempo. Hoje se ainda existirem são apenas vestígios dessa que um dia já hospedou o imperador D. Pedro II em 1860. Houve quem já se preocupasse e se dedicasse a Barra do Riacho um dia e essa pessoa chama-se Dr. José Maria Coutinho (in memorian). 

Imagem Site www.morrodomoreno.com.br

 
Imagem Portal Tk1
 
Imagem de www.morrodomoreno.com.br

Quando eu conheci a "Casa Assombrada" ela ainda era assim.

Hoje infelizmente nossos filhos a vêem assim...

 
Imagens do site Portal Tk1 de Aracruz.

Barra do Riacho
22/11/2011
A Barra do Riacho originou-se basicamente de uma das três grandes fazendas que havia nas proximidades do Rio Riacho, surgidas com a criação do Município de Santa Cruz, que abrangia aquela região. Em 1848. Esta fazenda, que se chamava Flor da Barra, começava na saída norte da (atual) Barra do Riacho e ia até o Córrego das Minhocas, na Praia das Conchinhas, sendo sua sede um casarão na foz do Rio Riacho.

A casa grande de uma das outras fazendas, a Mercantil, de Luís de Mattos, hospedou o imperador Dom Pedro II em fevereiro de 1860. O monarca estava fazendo uma visita à Província do Espírito Santo e percorreu praticamente toda a orla marítima do Município de Santa Cruz.
 
Imagem site www.morrodomoreno.com.br


Vejam o que o Imperador D. Pedro II anotou em seu "caderninho" quando passou por Barra do Riacho:
Prosseguem os apontamentos do monarca:
Vi na praia de Santa Cruz o navio de ferro em que o França Leite navegou a vela o rio Doce até [Fransilvânia]; agora deve pertencer ao governo e talvez se possa aproveitar alguma cousa.
Em 1858, o presidente José Francisco de Andrade e Almeida Monjardim consignara, em relatório: “Hoje, o mesmo iate fez a viagem daquela Colônia a esta cidade [Vitória] com a maior brevidade, para o que concorrem a facilidade das correntes do rio e o conhecimento e prática adquirida naquela exploração.”
E prossegue S. M. em suas notas:
Na praia, por onde andei, tem lugares cheios de fucê, e alguns pareceram-me curiosos, sentindo a estreiteza do tempo para examiná-los.
A areia atira para cor de rosa.
Depois vêm os riachos Tacipeva, Timbotiba e Saí, onde há vau [em] vazante; encontrei aí o Matos, dono da casa do Riacho onde me hospedo; é falador mas parece bom homem; nunca saiu quase de seu sitio, o que não admira num capixaba. 5h.
 Enquanto Biard, ao beber o cauim numa cuia para captar a simpatia dos índios que pretendia pintar, considerou o gesto como um holocausto à arte, o imperador deu mais uma prova de sua simplicidade:
 Quis provar a cauaba ou cachaça dos índios numa casa destes junto à foz do Saí onde se encontra a tal bebida; mas não a tinham. Dizem que é má, sendo feita de mandioca mastigada, que fermenta, tornando-se mais tolerável o cauim feito de milho; contudo o José Marcelino disse-me que a cauaba com açúcar era boa limonada refrigerante.
A viagem continuou a cavalo até a barra do Riacho, onde D. Pedro II se deteve o resto do dia (precisamente seis horas) para um descanso:
Riachos Piranema, Água Boa e o Minhoca, cuja saída quase que só tinha areia. Logo depois tomei à esquerda por dentro sempre ouvindo a pancada do mar e às 5 ¾ avistei a barra do Riacho depois de ter visto pouco antes a casa de sapé toda arruinada dum fulano Fuso onde se hospedou o Pedreira segundo disse o Matos.
6 h chego à casa do Matos, de sobrado e sofrível no alto duma colina verde de onde domina o Riacho que lhe corre perto; a vista não é feia.
O coronel Joaquim Ribeiro Pinto de Matos era o aludido proprietário da fazenda Santa Joana, cuja casa, assombrada, situava-se numa colina e que fora escolhida para a hospedagem.


Em 1912, como havia muitos posseiros ocupando a área em torno do pasto da Fazenda Flor da Barra, seu proprietário, Antônio Lobo, resolveu doar aquelas terras a seus ocupantes, num total de 30 hectares. Estava criado o povoado de Barra do Riacho. Em 1940, o filho-herdeiro de Antônio Lobo, Armando Lobo, doou mais de 20 hectares.
Por volta de 1930, Barra do Riacho já contava com cerca de 150 habitantes, destacando-se as famílias Azeredo, Alvarenga, Souza, Leal, Bandeira, Pimentel, Matos, Andrade, entre outras. Conta o historiador José Maria Coutinho que “nessa época, não havia carros nem estradas, apenas caminhos abertos a foice ligavam Barra do Riacho com outros povoados e toda viagem era feita a cavalo ou a pé. Os doentes eram transportados em redes”.
O pai de José Maria, José Coutinho da Conceição, passou a morar no progressista povoado por volta de 1932, dedicando-se à agricultura e depois ao comércio. José Coutinho também ajudou a desbravar a região e levar melhorias, como estradas e pontes, principalmente durante seus dois mandatos de vereador (1946 a 1954).
Conta seu filho: “Barra do Riacho ganhou as estradas que a ligam com a Vila do Riacho, Pau-Brasil e Barra do Sahy, tendo o vereador comandado os índios e caboclos na abertura da estrada, a foice, machado, facão, enxada e enxadão. José Coutinho foi também responsável pela construção das pontes sobre os Rios Sahy e Gemunhuna e do primeiro cemitério. Além disso, liderou a construção da Igreja de São Sebastião três vezes.
Com o desenvolvimento maior de outras regiões do município, na década de 50, a Barra do Riacho também entrou em decadência econômica e perdeu poder político, agravado pela morte de José Coutinho, em 19/8/57, e de sua mulher, Amália Del Santo Coutinho, em 1963. Mesmo assim, elegeria vereador o major Otto Netto (1955-1958) e José Souza (1973-1977).
A Barra do Riacho voltou a ganhar destaque a partir de 1976, quando foi literalmente “tomada” pelos milhares de operários que trabalhavam na construção da fábrica da Aracruz Celulose, a cerca de um quilômetro ao sul da vila. A fábrica entrou em atividade em outubro de 1978, construiu seu porto exclusivo pouco depois e foi ampliada cerca de dez anos depois, duplicando sua produção e se tornando a primeira fábrica de celulose do mundo.
Como Barra do Riacho recebeu muito pouco dos benefícios deste progresso e praticamente todos os seus problemas, nos últimos dias de agosto/80 surgiu a ACBR (Associação Comunitária de Barra do Riacho), fundada por José Maria Coutinho e Jurandir Ângelo.
Como efeito maior do trabalho de conscientização que José Maria já vinha liderando desde dois anos antes, a ACBR conseguiu fazer com que o lugar ficasse “com cara de cidade”. Os moradores passaram a ter confortos que até então desconheciam e se tronaram uma das comunidades mais politizadas do município.
Tanto é que voltaram a eleger vereadores a partir de 1989: Waldyr Vieira exerceu dois mandatos (1989-1992); Pedro Tadeu Coutinho, filho de José Coutinho da Conceição, idem (1993-1996 e 1997-2000); Marcelo de Souza Coelho (1997-2000).

Fonte: Faça-se Aracruz! (Subsídios para estudos sobre o município),1997
Organizador: Maurilen de Paulo Cruz Compilação: Walter de Aguiar Filho

Obrigada.

2 comentários:

  1. Bom dia me chamo Francisco Eduardo Martins Leal sendo neto de Theodorico dos Santos Leal e sobrinho neto de Herculano dos Santos Neto. Estive em viagem introspectiva em junho de 2019 por horas visitando Barra do Riacho e a Vila do Riacho na qual fui acompanhado por Pedro Nascimento longevo morador da Vila o qual mantinha relações com meus tios Mauro e Pedro. Já com meu pai Wilson de Araujo Leal pouco teve em função de mais de 10 anos de diferença de idade entre os dois.
    O melhor da viagem de mais de 1100 km, foi o prosear de testemunho viva da história da Vila do Riacho e seus protagonistas. Agradeço do coração as horas que o Sr Pedro me disponibilizou com tanto carinho.
    O comerciante Jorge que me apresentou a Pedro e outros moradores também agradeço a acolhida.
    Angélica Rangel muito boa sua iniciativa, está de parabéns !

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  2. Muito bom, por muito tempo procurei saber sobre a barra do riacho onde nascir e cresci e onde moro atualmente,e fico feliz por saber um pouco da história da minha cidade. Pena q o estado não se preocupou em preservar a casa assombrada né q fez parte do nascimento de barra do riacho, mas mesmo assim foi um ótimo trabalho que vc fez em pesquisar e contar sobre a história desse lindo lugar.

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Seja bem vindo! Desde já agradeço sua contribuição.