sexta-feira, 7 de setembro de 2012

07 de Setembro de 2012 – Aniversário de 106 anos de nossa querida Dona Amélia Serafim.



Blog Angélica Rangel

No dia 07 de Setembro de 1906, nascia uma menina que viria a ser muito querida por todos.
Desde muito cedo trabalhava muito para ajudar no sustento da família. Cresceu formou sua própria família, chegou a trabalhar na Fazenda dos Mattos, que para nós barrenses é conhecida como “Casa Assombrada”.
Quando meu pai saiu do Rio de Janeiro em 1979, para vir trabalhar numa empresa recém inaugurada chamada Aracruz Celulose, não imaginávamos que iríamos vir para tão longe e ficar por tanto tempo. Aqui chegamos cheio de sonhos, promessas e esperanças. Dona Amélia Serafim foi uma das primeiras pessoas que meu pai conheceu ao chegar a Barra do Riacho. Nesse momento iniciou-se uma amizade pura, verdadeira que duraria uma vida inteira. Lembro-me que ainda criança minha mãe ia sempre visitar Dona Amélia e Dona Inês sua filha e todos os outros, pois a família é bem grande.  Sempre fomos muito bem recebidos por sua família e o cafezinho é inesquecível. Como é bom poder chegar num lugar desconhecido e poder contar com a ajuda de pessoas tão maravilhosas.

Hoje 07 de Setembro de 2012, Dona Amélia Serafim completa 106 anos, imaginem vocês quantas coisas essa pessoa já não viveu? Lembro-me de uma de suas histórias que eu mais gostava de ouvir. Ela nos contava que trabalhou quase que como escrava na Fazenda dos Mattos, ouvi muitas histórias de seus modos, como faziam suas festas alegradas com muito congo, de como o Sr. Mattos era rígido com seus empregados, seus costumes, e ainda sobre a lenda de que a casa dos Mattos era “assombrada”. Contava-me também sobre um tal tesouro que os Mattos haviam enterrado em algum lugar de sua propriedade. Devido a essa lenda muitas pessoas iam até a Casa Assombrada para escavar na esperança de encontrar algo valioso. Mas ao fazerem isso cometiam a imprudência de danificar a casa e destruir sua cultura, que por muitas vezes juntamente com meus amigos fomos lá brincar. É uma pena que o Poder Público deixou uma parte da história de Barra do Riacho cair em ruínas e se perder no esquecimento.

Hoje fico pensando como é viver por tanto tempo? Imaginem vocês o que a Dona Amélia viu, ouviu e sentiu podendo fazer parte da história durante mais de um século?! É fantástico.
Ela presenciou a criação da primeira escola em 1933 na casa do querido Prof. Aparício Alvarenga, que hoje dá seu nome a nossa Avenida principal de Barra do Riacho.

Ela viu em 16/05/1931, o Município de Riacho ser re-anexado a Santa Cruz juntamente com seus distritos. Viu a cidade de Santa Cruz viver seu auge nessa época. Viu a construção da Estrada de Ferro Vitória Minas e a BR 101. Presenciou ainda a transferência da sede para um povoado chamado Sauassú, que ficava mais próximo das estradas de rodagem cujas terras pertenciam ao Sr. Eugenio Antônio Bitti.
Nesse momento fico imaginando a minha amiga, ouvindo os rumores de protestos, pois os moradores de Santa Cruz não aceitavam a transferência da sede. Ela deve ter ouvido os comentários dos viajantes, dos peões que por aqui passavam dizendo que um tal de Sr. Landerico Lâmego  liderava um grupo de moradores revoltosos que munidos de pedras faziam tocaia na ladeira de acesso a Sauassú.  Já nessa época havia disputas políticas.

Não teve jeito mesmo depois de muitas revoltas em 1943 o decreto de lei nº 15177 dá o nome de Aracruz para o até então chamado de Santa Cruz. Isso tudo acontecia sob o poder administrativo municipal do então Prefeito Luiz Theodoro Musso. A Dona Amélia Serafim presenciou nesse momento Aracruz ir crescendo, estradas sendo aberta a base de facão e Barra do Riacho sendo povoada.

Aos 24 anos de idade, Amélia Serafim ainda jovem viu as famílias que aqui chegaram em 1930, Barra do Riacho contava com 23 casas e algumas famílias como Mattos, Silva, Alvarenga, Azeredo, Coutinho, Souza, Andrade, Murilo, Lobo, Martins, Bandeira, Ribeiro, Peixoto, Correa, Anastácio, Fortunato, Loureiro, Cariacica, Trindade, Miranda, Cordeiro, Joana e Pimentel.

Dona Amélia nos contava que essa época foi boa, vivia da caça, da pesca, agricultura, mais também podiam contar com três casas de comércio a do Sr. Tatão, Sr. Avelino e SR. Marcelino. Depois surgiu a padaria do Sr. Manoel Coutinho, e não sofreriam mais com dor de dente, pois o Sr. Laurindo foi o primeiro dentista de Barra do Riacho. Podiam ir à missa, pois foi construída a igreja católica. Dona Amélia freqüentou muitas vezes a missa.

Eu perguntava e como eram as diversões dessa época o que vocês faziam? Ela me disse dançamos muito congo, e tinha também o Teatro Popular com o Cordão das Baianas e das Morenas. Imaginem como devia ser bom?!
E como era o transporte coletivo? Não somente mais a cavalo, a pé, pois o Sr. Candido tratou de pensar no futuro e com bastante empreendedorismo comprou  uma lotação. Resolvido o problema, depois foi seguido também pelo Sr. Valdir Magnago, e aí tem histórias heim!

Imaginem vocês, que dia desses ia eu para o trabalho e tive o prazer de sentar ao lado de um Senhor que não sei o nome, mais já somos amigos porque pegamos o mesmo ônibus sempre. Ele começou uma prosa, e foi uma lição de história, me contou que ainda pequeno, andava por todas essas terras a pé, a cavalo e trabalhava muito nas roças e fazendas da região. Ele me contou sobre o Sr. Valdir e sua lotação. Disse-me que a lotação saia cedinho daqui e ia para Sauassú mais ia pegando gente por tudo quanto é canto, às vezes ou quase sempre quebrava descia todo mundo empurrava, e com muita fé em Deus sempre conseguiam chegar ao destino. Ela partia de manhã e retornava já de noite. Nesse momento ele me disse: moça nós “passava um dobrado na volta” e eu perguntei mais por quê? Ele disse o Sr. Valdir tomava umas cachacinhas e vinha calibrado, quando chegava numa tal ponte que tinha que atravessar o mesmo dizia: To vendo três pontes, mais acho melhor pegar o do meio prá não errar! Não agüentei gente rimos muito desse fato! Em outra oportunidade vou contar mais sobre essa prosa que tive com o meu amigo do ônibus.

Mais voltando a minha homenageada que se confunde com a história de nossa querida Barra do Riacho, ela me contava que não podia pegar a lotação e andava a pé mesmo. Sorte a dela talvez né! RS
Tudo ia caminhando bem o bairro ia crescendo a escola já estava construída e tinha a querida e amada por todos como professora a Dona Amália Coutinho, que dá seu nome hoje ao nosso Pré-Escolar. Dona Amélia lembrou-se que nessa época 1958, Barra do Riacho perdeu um de seus moradores ilustres, o Sr. José Coutinho, que já havia sido vereador e lutado muito em prol da comunidade. 

Depois de um tempo a Dona Amélia presenciou o tal progresso chegando a Barra do Riacho, através da chegada da Companhia de Ferro e Aço em 1959 e depois em 1967 a chegada da Companhia Aracruz Florestal, que chegou comprando terras e substituindo a floresta tropical por eucaliptos, mais ela disse que trouxe empregos para as pessoas que até então viviam só da roça, pesca e criação de animais. Nesse momento Barra do Riacho já conhecia o progresso e também começava a conhecer suas conseqüências.

Em 1975, começou a construção da Fábrica Aracruz Celulose e foi inaugurada já em 30-10-1979. Antes em 1978 o Portocel iniciou a construção de seu porto especializado.

Dona Amélia me contou muitas vezes sobre as histórias desse período, imaginem um povoado com costumes simples, e derrepente sendo expostos a pessoas estranhas conhecidas como forasteiros, sim os trabalhadores que vieram de toda parte do país para trabalhar aqui. Já naquela época Barra do Riacho não estava preparada para a chegada do tal progresso, foram muitas mortes, assaltos, aumento de população influenciando no comércio e no funcionamento da escola, enfim as conseqüências negativas causaram um impacto grande no povoado.

Nesse momento ela me contava também sobre uma enchente que ocorreu em 1979 e marcou a comunidade para sempre causando muitos danos a moradores ribeirinhos.

É nesse momento dia 21 de Abril de 1980, que nós eu e minha família movida pela esperança de uma vida melhor desembarcamos em Barra do Riacho e aqui conhecemos a pessoa que iria marcar e fazer parte de nossas vidas para sempre nossa querida e amada Dona Amélia Serafim hoje completando 106 anos de vida e muitas histórias para contar.

Aqui cresci, aprendi a dar valor a minha comunidade, consolidei meus valores, construí minha própria família, casei-me com um filho de Barra do Riacho mais originalmente de Comboios, vindo da família Ribeiro de Souza. E é aqui que moro há 33 anos e aprendi a amar Barra do Riacho, pois hoje como meu pai mesmo diz podemos bater no peito e dizer que somos Barrenses de coração.

Nesse momento eu digo o porquê de tudo isso, a história de minha família em Barra do Riacho se deve também a essa mulher guerreira, batalhadora, mãe, avó e bisavó, amiga de todos e muito querida por nós. Muitas vezes pensamos em desistir diante das dificuldades que aqui encontramos, em muitos momentos pensamos em voltar para nossa terra, mais graças a Deus e a essa pessoa que sempre aconselhou meu pai e minha mãe,  aqui continuamos e fincamos nossas raízes.

Que Deus nosso Senhor continue abençoando e protegendo nossa querida e centenária, Dona Amélia Serafim. Não sabemos até quando Deus irá nos permitir ter sua presença entre nós, mais desde já agradecemos por tudo que fez por nossa família.

Por Angélica Rangel

Fontes: Biblioteca da Escola Caboclo Bernardo, moradores locais, e minha maior informante Dona Amélia Serafim.

Blog Angélica Rangel


P.S.: Dedico essa mensagem a nossa querida e amada Dona Amélia Serafim moradora de Barra do Riacho e também a minha querida Mãe Ligia, que há muito tempo vem me pedindo que fizesse essa homenagem. 
Mãe, espero que tenha saído do jeito que você almejou essa nossa homenagem de agradecimento.

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