No dia 07 de Setembro de 1906,
nascia uma menina que viria a ser muito querida por todos.
Desde muito cedo trabalhava muito
para ajudar no sustento da família. Cresceu formou sua própria família, chegou
a trabalhar na Fazenda dos Mattos, que para nós barrenses é conhecida como
“Casa Assombrada”.
Quando meu pai saiu do Rio de
Janeiro em 1979, para vir trabalhar numa empresa recém inaugurada chamada
Aracruz Celulose, não imaginávamos que iríamos vir para tão longe e ficar por
tanto tempo. Aqui chegamos cheio de sonhos, promessas e esperanças. Dona Amélia
Serafim foi uma das primeiras pessoas que meu pai conheceu ao chegar a Barra do
Riacho. Nesse momento iniciou-se uma amizade pura, verdadeira que duraria uma
vida inteira. Lembro-me que ainda criança minha mãe ia sempre visitar Dona
Amélia e Dona Inês sua filha e todos os outros, pois a família é bem
grande. Sempre fomos muito bem recebidos
por sua família e o cafezinho é inesquecível. Como é bom poder chegar num lugar
desconhecido e poder contar com a ajuda de pessoas tão maravilhosas.
Hoje 07 de Setembro de 2012, Dona
Amélia Serafim completa 106 anos, imaginem vocês quantas coisas essa pessoa já
não viveu? Lembro-me de uma de suas histórias que eu mais gostava de ouvir. Ela
nos contava que trabalhou quase que como escrava na Fazenda dos Mattos, ouvi
muitas histórias de seus modos, como faziam suas festas alegradas com muito
congo, de como o Sr. Mattos era rígido com seus empregados, seus costumes, e
ainda sobre a lenda de que a casa dos Mattos era “assombrada”. Contava-me
também sobre um tal tesouro que os Mattos haviam enterrado em algum lugar de
sua propriedade. Devido a essa lenda muitas pessoas iam até a Casa Assombrada
para escavar na esperança de encontrar algo valioso. Mas ao fazerem isso
cometiam a imprudência de danificar a casa e destruir sua cultura, que por
muitas vezes juntamente com meus amigos fomos lá brincar. É uma pena que o
Poder Público deixou uma parte da história de Barra do Riacho cair em ruínas e
se perder no esquecimento.
Hoje fico pensando como é viver
por tanto tempo? Imaginem vocês o que a Dona Amélia viu, ouviu e sentiu podendo
fazer parte da história durante mais de um século?! É fantástico.
Ela presenciou a criação da
primeira escola em 1933 na casa do querido Prof. Aparício Alvarenga, que hoje
dá seu nome a nossa Avenida principal de Barra do Riacho.
Ela viu em 16/05/1931, o
Município de Riacho ser re-anexado a Santa Cruz juntamente com seus distritos.
Viu a cidade de Santa Cruz viver seu auge nessa época. Viu a construção da
Estrada de Ferro Vitória Minas e a BR 101. Presenciou ainda a transferência da
sede para um povoado chamado Sauassú, que ficava mais próximo das estradas de
rodagem cujas terras pertenciam ao Sr. Eugenio Antônio Bitti.
Nesse momento fico imaginando a
minha amiga, ouvindo os rumores de protestos, pois os moradores de Santa Cruz não
aceitavam a transferência da sede. Ela deve ter ouvido os comentários dos
viajantes, dos peões que por aqui passavam dizendo que um tal de Sr. Landerico Lâmego
liderava um grupo de moradores
revoltosos que munidos de pedras faziam tocaia na ladeira de acesso a Sauassú. Já nessa época havia disputas políticas.
Não teve jeito mesmo depois de
muitas revoltas em 1943 o decreto de lei nº 15177 dá o nome de Aracruz para o
até então chamado de Santa Cruz. Isso tudo acontecia sob o poder administrativo
municipal do então Prefeito Luiz Theodoro Musso. A Dona Amélia Serafim presenciou
nesse momento Aracruz ir crescendo, estradas sendo aberta a base de facão e
Barra do Riacho sendo povoada.
Aos 24 anos de idade, Amélia
Serafim ainda jovem viu as famílias que aqui chegaram em 1930, Barra do Riacho
contava com 23 casas e algumas famílias como Mattos, Silva, Alvarenga, Azeredo,
Coutinho, Souza, Andrade, Murilo, Lobo, Martins, Bandeira, Ribeiro, Peixoto,
Correa, Anastácio, Fortunato, Loureiro, Cariacica, Trindade, Miranda, Cordeiro,
Joana e Pimentel.
Dona Amélia nos contava que essa
época foi boa, vivia da caça, da pesca, agricultura, mais também podiam contar
com três casas de comércio a do Sr. Tatão, Sr. Avelino e SR. Marcelino. Depois surgiu a padaria do Sr.
Manoel Coutinho, e não sofreriam mais com dor de dente, pois o Sr. Laurindo foi
o primeiro dentista de Barra do Riacho. Podiam ir à missa, pois foi construída
a igreja católica. Dona Amélia freqüentou muitas vezes a missa.
Eu perguntava e como eram as
diversões dessa época o que vocês faziam? Ela me disse dançamos muito congo, e
tinha também o Teatro Popular com o Cordão das Baianas e das Morenas. Imaginem
como devia ser bom?!
E como era o transporte coletivo?
Não somente mais a cavalo, a pé, pois o Sr. Candido tratou de pensar no futuro
e com bastante empreendedorismo comprou
uma lotação. Resolvido o problema, depois foi seguido também pelo Sr.
Valdir Magnago, e aí tem histórias heim!
Imaginem vocês, que dia desses ia
eu para o trabalho e tive o prazer de sentar ao lado de um Senhor que não sei o
nome, mais já somos amigos porque pegamos o mesmo ônibus sempre. Ele começou uma prosa, e foi uma
lição de história, me contou que ainda pequeno, andava por todas essas terras a
pé, a cavalo e trabalhava muito nas roças e fazendas da região. Ele me contou
sobre o Sr. Valdir e sua lotação. Disse-me que a lotação saia cedinho daqui e
ia para Sauassú mais ia pegando gente por tudo quanto é canto, às vezes ou
quase sempre quebrava descia todo mundo empurrava, e com muita fé em Deus
sempre conseguiam chegar ao destino. Ela partia de manhã e retornava já de
noite. Nesse momento ele me disse: moça nós “passava um dobrado na volta” e eu
perguntei mais por quê? Ele disse o Sr. Valdir tomava umas cachacinhas e vinha
calibrado, quando chegava numa tal ponte que tinha que atravessar o mesmo dizia:
To vendo três pontes, mais acho melhor pegar o do meio prá não errar! Não agüentei gente rimos muito
desse fato! Em outra oportunidade vou contar mais sobre essa prosa que tive com
o meu amigo do ônibus.
Mais voltando a minha homenageada
que se confunde com a história de nossa querida Barra do Riacho, ela me contava
que não podia pegar a lotação e andava a pé mesmo. Sorte a dela talvez né! RS
Tudo ia caminhando bem o bairro
ia crescendo a escola já estava construída e tinha a querida e amada por todos
como professora a Dona Amália Coutinho, que dá seu nome hoje ao nosso
Pré-Escolar. Dona Amélia lembrou-se que nessa época 1958, Barra do Riacho
perdeu um de seus moradores ilustres, o Sr. José Coutinho, que já havia sido
vereador e lutado muito em prol da comunidade.
Depois de um tempo a Dona Amélia
presenciou o tal progresso chegando a Barra do Riacho, através da chegada da
Companhia de Ferro e Aço em 1959 e depois em 1967 a chegada da Companhia
Aracruz Florestal, que chegou comprando terras e substituindo a floresta
tropical por eucaliptos, mais ela disse que trouxe empregos para as pessoas que
até então viviam só da roça, pesca e criação de animais. Nesse momento Barra do
Riacho já conhecia o progresso e também começava a conhecer suas conseqüências.
Em 1975, começou a construção da
Fábrica Aracruz Celulose e foi inaugurada já em 30-10-1979. Antes em 1978 o
Portocel iniciou a construção de seu porto especializado.
Dona Amélia me contou muitas
vezes sobre as histórias desse período, imaginem um povoado com costumes
simples, e derrepente sendo expostos a pessoas estranhas conhecidas como
forasteiros, sim os trabalhadores que vieram de toda parte do país para
trabalhar aqui. Já naquela época Barra do Riacho não estava preparada para a
chegada do tal progresso, foram muitas mortes, assaltos, aumento de população
influenciando no comércio e no funcionamento da escola, enfim as conseqüências
negativas causaram um impacto grande no povoado.
Nesse momento ela me contava
também sobre uma enchente que ocorreu em 1979 e marcou a comunidade para
sempre causando muitos danos a moradores ribeirinhos.
É nesse momento dia 21 de Abril
de 1980, que nós eu e minha família movida pela esperança de uma vida melhor
desembarcamos em Barra do Riacho e aqui conhecemos a pessoa que iria marcar e
fazer parte de nossas vidas para sempre nossa querida e amada Dona Amélia
Serafim hoje completando 106 anos de vida e muitas histórias para contar.
Aqui cresci, aprendi a dar valor
a minha comunidade, consolidei meus valores, construí minha própria família,
casei-me com um filho de Barra do Riacho mais originalmente de Comboios, vindo
da família Ribeiro de Souza. E é aqui que moro há 33 anos e aprendi a amar
Barra do Riacho, pois hoje como meu pai mesmo diz podemos bater no peito e
dizer que somos Barrenses de coração.
Nesse momento eu digo o porquê de
tudo isso, a história de minha família em Barra do Riacho se deve também a essa
mulher guerreira, batalhadora, mãe, avó e bisavó, amiga de todos e muito
querida por nós. Muitas vezes pensamos em desistir diante das dificuldades que
aqui encontramos, em muitos momentos pensamos em voltar para nossa terra, mais
graças a Deus e a essa pessoa que sempre aconselhou meu pai e minha mãe, aqui continuamos e fincamos nossas raízes.
Que Deus nosso Senhor continue
abençoando e protegendo nossa querida e centenária, Dona Amélia Serafim. Não
sabemos até quando Deus irá nos permitir ter sua presença entre nós, mais desde
já agradecemos por tudo que fez por nossa família.
Por Angélica Rangel
Fontes: Biblioteca da Escola
Caboclo Bernardo, moradores locais, e minha maior informante Dona Amélia
Serafim.
P.S.: Dedico essa mensagem a nossa
querida e amada Dona Amélia Serafim moradora de Barra do Riacho e também a minha querida Mãe Ligia, que há muito tempo vem me pedindo que fizesse essa homenagem.
Mãe, espero que tenha saído do jeito que você almejou essa nossa homenagem de agradecimento.