sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

EU PRATICO O DESAPEGO...

Adoro as crônicas da Ana Laura, publicadas no Jornal A Gazeta, hoje especialmente li essa e veio muito a calhar nesse momento de fim de ano, onde estamos na correria para as compras de natal, que roupa vamos usar e qual sapato vai combinar, são tantas emoções como já dizia meu amigo o rei Roberto Carlos. Fica a dica "DESAPEGA MENINA"...
Bom fim de semana a todos os amigos... Vamos a leitura...

DESAPEGO

Chega a ser irônico que a mesma temporada em que uns compram enlouquecidamente inspire outros a jogar fora, doar, vender pro sebo, colocar em exposição no bazar do final da rua. É tarefa para várias noites: diminuir a pilha de livros à espera das traças, de vestidos que há algum tempo deixaram de cair bem, de panelas e garfos e facas que não servem, de rancores, lembranças e histórias que o coração não quer e o estômago não aguenta.
Estou dentro.

Olho, por exemplo, o vestido marrom de uns três ou quatro invernos atrás. O corte é elegante, tecido de primeira, figuras geométricas em preto espalhadas por toda a sua extensão, viés na cintura, zíper nas costas, destaque para o espaço originalmente destinado ao balanço das cadeiras e algumas memórias guardadas nele, uma noite, uma companhia, um presente delicado, uma cidade inteira e uma certeza: dificilmente vou caber outra vez ali dentro.

(Que dó).

Olho então as estantes do quarto dos livros, arrumadinhas (ou semi). Os de jornalismo vivem numa prateleira, os romances na outra, os latinos em uma, os sobre música em outra. As aquisições recentes à espera de tempo e dedicação estão em uma, as revistas e jornais em outra, em ordens diversas que estabeleço vai saber como (a gente se entende), as caixas de lápis, canetas e post-its, tesoura, cola, caderno (adoro), telefone, caixa de som, fotografias, aquilo tudo, em contante construção.

Olho os discos que há algum tempo não compramos mais e as exceções - o Chico novo, o Moska duplo, a Tulipa porque isso é o que o amor faz, o Jeneci e ainda um pouco do novo samba que se faz por aí, porque a vida (lembra?) é pra se levar como o Geraldo, o Angenor, o Nelson, o Heitor, o João, o Noel, o Baden, a Ivone, o Jorge, a Clementina, o Adoniran e o Alfredo ensinaram, cobertos de razão e ainda hoje, que era para levar.

Olho para trás, exatamente como a época inspira: escolha, decisão, definição, mudança, aprendizado, felicidade, madrugada, promessa, caminho; um ano bom apesar das faltas que cheiram à indiferença e dos desapontamentos que parecem movidos pela pura vaidade; um ano bom, apesar dos deslizes, dos arroubos, das deslealdades; um ano bom, apesar dos pesares.

Chega a ser irônico que a mesma temporada em que uns compram enlouquecidamente inspire outros ao desapego, ao árduo trabalho de deixar o superficial para cada vez mais abrir espaço ao fundamental, escolher, organizar, descartar, mudar. É difícil, mas funciona. O planeta agradece. A alergia, a faxineira, os desabrigados pela chuva e as amigas magras que cabem no vestido marrom também.


Créditos do texto Desapego para:
Ana Laura Nahas
ana.laura.nahas@gmail.com

APROVEITEM O FIM DE SEMANA PARA DESAPEGAR DE TODAS AS COISAS QUE JÁ NÃO LHE PERTENCEM MAISSSSS.... BEIJOS A TODOS....


Um comentário:

  1. Esqueci de colocar os créditos da imagem são do blog maravilhoso da Thais defrenestando.net

    Bjo

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Seja bem vindo! Desde já agradeço sua contribuição.