sábado, 8 de junho de 2013

Oportunismo nos municípios

A novidade agitou o antro político, afinal, quem não quer ser o herói da emancipação de sua cidade?

GABRIEL TEBALDI | gab_meira@hotmail.com

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A porteira da emancipação municipal está aberta! Com a lei aprovada nessa semana, a decisão de criar novas cidades depende apenas dos Estados. O resultado foi imediato: o país pode ganhar mais de 400 municípios, novinhos e desnecessários.

A novidade agitou o antro político, afinal, quem não quer ser o herói da emancipação de sua cidade? Diante disso, esta coluna investigou e revela com exclusividade um inciso oculto na lei: a criação dos novos municípios levará à mudança do nome dos Estados que aprovarem a presepada. A estreia do batizado deve começar no norte do país. No Amazonas, bastam 6 mil habitantes e 50% de eleitores para encaixar-se na revolução. Em apenas um dia, 16 comunidades registraram seus pedidos, como a grande Janauacá e outras metrópoles como Cacau Pirera, Itapeçu, Caviana e Baubina. Os lugarejos prometem transformações no cenário nacional, refletidas no novo nome do estado: Amaiorzonas.

No Nordeste, a Paraíba é o símbolo do absurdo. Lá os representantes classificaram a medida como “necessária”, e cinco pedidos já foram encaminhados. Os dados, porém, rejeitam o oportunismo. Mesmo sendo o sétimo menor estado da federação, são 223 municípios que, juntos, possuem o quarto pior PIB per capita da nação, tendo o terceiro maior índice de pobreza e igual colocação no ranking de analfabetismo. Segundo os documentos secretos acessados, o novo nome da localidade nordestina é realista: Pindaíba.

Enquanto isso, no Centro-oeste, para alegria das excelências, o Mato Grosso já planeja 20 novos municípios. Realmente, há motivos para o sorriso dos corruptos. Só em 2012 o Tribunal de Justiça tramitou 302 casos de corrupção, lavagem de dinheiro e improbidade administrativa. O dinheiro sujo inspira o novo batismo: Maço Grosso.

A região Sul também entrou na dança. O Paraná já tem treze recantos encaminhados, sendo nove já aprovados pelo Legislativo. De início, alguns dados não preocupariam: o Estado possui o quinto maior PIB do país, o sexto maior IDH, analfabetismo de apenas 5% e expectativa de vida em quase 75 anos. Mas nem tudo são flores nos 399 municípios: é de lá o maior escândalo de corrupção da história do país, que desviou R$ 42 bilhões em quatro anos. Os escândalos dão origem ao novo nome: Praroubá.

Por aqui no Sudeste, São Paulo e Minas também apresentaram seus anseios emancipacionistas. Nesses casos, porém, a lei tem qualidade, pois traça o mínimo de 12 mil habitantes para o processo. Se aprovada há mais tempo, algumas curiosidades paulistas poderiam ser evitadas, como o município de Iporanga, que tem 3,6 habitantes/km² e Borá, que soma 806 moradores. Sem falar nas 853 cidades mineiras. Caso entrem no jogo, os Estados já têm nomes definidos: São Paulo Maluf e Propinas Gerais.

Mas nenhuma dificuldade é páreo para os capixabas. Aqui, onze novos municípios aguardam o visto, ignorando Fundap, royalties de petróleo e o arrocho orçamentário das prefeituras. Esquecem, também, os péssimos resultados das cidades criadas recentemente. Em 2010, São Roque do Canaã arrecadou R$ 17,6 milhões e gastou R$ 7,7 milhões só para a folha de pagamento. Já Governador Lindenberg, o debutante de apenas 15 anos, teve a 21ª pior arrecadação do Estado e gastou um terço para manter sua estrutura.

O projeto tem, por trás, o interesse de alguns em ampliar a influência e o domínio político, partindo municípios e transformando-os em pequenos currais eleitorais. Não obstante, 2012 provou a insuficiência econômica das cidades brasileiras: segundo a Confederação Nacional dos Municípios, 75% delas encontraram dificuldades para fechar as contas do ano. Desse modo, só o oportunismo justifica tal ideia e revela nosso novo nome: Espírito Ninguém é Santo.

Logo os novos municípios farão parte do país onde o extraordinário nunca é demais. As investigações revelaram, também, o novo nome da Capital federal. E reconhecendo a organização e o profissionalismo do lugar, o título não poderia ser outro: Quadrilha. Mas, aqui entre nós, essa não é novidade pra ninguém.

Gabriel Tebaldi, 20 anos, é estudante de História da Ufes

Fonte: A GAZETA

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