sexta-feira, 16 de março de 2012

Redescobrindo Barra do Riacho Parte 2...

Aracruz - ES
Site da PMA

A história do Município de Aracruz pode ser dividida em seis períodos: primitivismo, colonialismo, neocolonialismo, nacionalismo desenvolvimentista, modernização dependente e globalização subordinada.



Segundo os arqueólogos, a ocupação do território do atual Município de Aracruz começou durante a pré-história brasileira, ainda no período primitivo (pré-história – 1.500), há uns 3.200 a.C. (antes de Cristo), ou 5.200 a.P. (antes do Presente), cujos vestígios arqueológicos são os sambaquis, amontoados de conchas de ostras e outros mariscos, encontrados principalmente ao longo dos rios Piraquê-açú, Riacho e Comboios, depositado pelos povos caçadores, pescadores ou coletores de alimentos na natureza, que costumavam escavar e fazer moradias.



Bem mais tarde, por volta do ano 500 da era cristã em diante, enquanto o Império Romano era destruído pelos bárbaros em 475 d.C., conviviam em períodos próximos no território capixaba, possivelmente três tradições culturais indígenas, nomeadas pelos especialistas (arqueólogos, antropólogos e historiadores) como: 1) 500-1.500 – Tradição Tupi-Guarani: Ex: Tupinambá – Tupinikim; 2) 800-1800 – Tradição Aratu: Ex: Pataxó; 3) 1.000-1.600 – Tradição Uma, Ex: Puri e Coroado.

Aracruz hoje orgulha-se de ter encontrado, no Distrito de Santa Cruz, duas urnas funerárias, de cerâmica, com 600-800 anos de idade, dentro das quais os índios da Tradição Aratu depositavam seus mortos de cócoras, antes de seus corpos endurecerem e serem enterrados. Restauradas por arqueólogos, estão sob a guarda da Secretaria Municipal de Cultura, Desporto e Lazer, e em exposição permanente, no saguão do Teatro Municipal.

No período colonial (1500-1810), quando a região era habitada pelos índios Goitacaz, extintos no século XVII, portugueses e índios temiminós, de Niterói, derrotados por uma aliança entre invasores franceses e tamoios do Rio de Janeiro, são transferidos pelo * Governador-Geral Duarte da Costa  para o Espírito Santo, sendo alojados na margem direita-sul da foz do rio Piraquê-açú, hoje vila de Santa Cruz, onde fundaram um pequeno aldeamento em 1556, chefiados pelo cacique temiminó Maracajaguaçu e pelo * padre jesuíta Brás Lourenço , auxiliado por dois noviços, Diogo Jácome e Fabiano Lucena.

        

                   
                     * Governador Geral Duarte da Costa                        padre jesuíta Brás Lourenço                      

                  Imagem de ep-historia.blogspot.com                       Imagem de geocities.ws


O lugarejo criado recebeu o nome de Aldeia Nova, com o objetivo de ocupar a costa do pau-brasil (Rio Grande do Norte a Cabo Frio), conquistar a terra e evangelizar os índios da região. Entretanto, Aldeia Nova teve desenvolvimento lento por causa da grande quantidade de formigas “cabeçudas”, que destruíam as lavouras, o que levou os padres a fundar outra aldeia em 1557, em Campos do Riacho, que também cresceu lentamente.



Anos depois, em 1580, início do domínio espanhol (1580-1640), os jesuítas transferiram os índios, já aldeados, para o núcleo que fundaram em Nova Almeida, o qual chamaram Aldeia Nova dos Santos Reis Magos, ficando a Aldeia de Santa Cruz com o nome de Aldeia Velha, pertencente ao futuro Município de Santos Reis Magos, que mais tarde passou a se chamar Nova Almeida.



 

Em 1595, o Padre Domingos Garcia mandou ao sertão dois principais índios Tupinikim, Arco Grande e um outro, convertidos e respectivamente rebatizados com os nomes de Miguel de Azeredo e Inácio de Azevedo, para trazer seus parentes que fugiram ao massacre do novo Governador Mem de Sá, de 1560, do sul da Bahia ao norte do rio Cricaré, atravessando e se embrenhando nas matas do rio Doce, em direção a Minas Gerais, onde foram encontrados e trazidos para a aldeia de Reis Magos, caminhando 400 léguas.



Quinze anos depois, já em 1610, o Padre João Martins conseguiu a doação de uma sesmaria aos indígenas de 2.160 km2 (ou sejam 72 km de sul a norte por 30 km no sentido leste-oeste, do mar para dentro), de Jacaraípe a Linhares, pelo Governador da Capitania, possivelmente Miguel de Azeredo, que substituía D. Luiza Grinalda, donatária, viúva deste 1588 do filho do donatário * Vasco Fernandes Coutinho, com o mesmo nome, de quem era Capitão de Ordenanças.



                        
* Vasco Fernandes Coutinho                            Imagem de stravaganzastravaganza.blogspot.com
Imagem de www2.crb.ucp.pt
 
Abandonada por 110 anos, desde 1580, Aldeia Velha foi repovoada em 1790, por 30 casais portugueses, trazidos pelo Capitão Mongeardino, os quais se espalharam para o norte, chegando ao vale do rio Riacho onde, em 1800, fundaram na foz desse rio, o Quartel do Riacho, contra a presença dosíndios Botocudo, dando origem ao povoado de Barra do Riacho.

 
* Foto de 1903, grupo de índios botocudos 


No período neocolonial (1810-1930), já em 1815, foi fundado o Quartel de Comboios e, após a Independência do Brasil, já em 1828, a Intendência de Campos do Riacho, hoje Vila do Riacho. Em 1836, é construído o * frontispício da Igreja Católica de Santa Cruz., e em 16 de dezembro de 1837, a Lei Provincial nº 5 eleva Aldeia Velha à condição de Distrito e Vila do Município de Reis Magos, com sede onde hoje é Nova Almeida. 

 
* Frontispício da Igreja Católica de Santa Cruz

D. Pedro II em sua passagem pela Vila de Santa Cruz anotou em sua caderneta o que viu:



Imagem de imperiobrasileiro-rs.blogspot.com

 D. Pedro II anotou:
O frontispício da igreja é maior do que esta, iludindo de longe a quem o vir de frente.
A ereção de tal frontispício fora iniciada em 9 de maio de 1857, por subscrição entre os exportadores de jacarandá do município. Mas as proporções do templo foram consideradas gigantescas, em relação à pobreza da vila, pois eram calculados necessários mais de vinte contos para a sua conclusão.
Ao deixar a estrada, pela mata, S. M. atravessou a planície salpicada de palhoças de pescadores, entremeadas de casinhas a que a caiação dava um melhor aspecto.
Repicavam os sinos, estrugiam foguetes e o povo aguardava com alegria a chegada do soberano, cuja hora precisa foi registrada em sua caderneta:
8 h – Vila de Santa Cruz alegre à margem direita do rio; casas térreas pequenas e a maior parte de sapé."



Em 1840, é criada a primeira escola oficial para meninos. A emancipação política do Distrito ocorreu em 03 de abril 1848, tornando-se o Município de Santa Cruz. Viajantes franceses e alemães visitaram o novo município e relataram suas memórias das viagens.


* Pietro Tabacchi e sua esposa Anna Fontoura Tabacchi
Imagem www.morrodomoreno.com.br


O progresso do lugar atraiu, em 1851, o * imigrante italiano Pietro Tabacchi (depois, empreendedor e comerciante local, proprietário da Fazenda das Palmas) e a visita do Imperador D. Pedro II, em 1860. Em 1864, foi construída a 1ª Igreja Católica de Vila do Riacho.


                
Festa de São Benedito em Vila do Riacho         D. Astrogilda Rainha da Banda de Congo São Benedito
Blog do Marcelo Ribeiro guiaeturismo.com                                Imagem do portaltk1.com.br


Após várias negociações, Tabacchi obteve do Imperador, em 1873, permissão para trazer 70 famílias do Tirol (Itália), para trabalharem em sua Colônia “Nova Trento”, nos limites do município vizinho de Fundão, seis horas de viagem a pé. Chegaram 386 tiroleses em Vitória, em 24-02-1874, a bordo do brigue-barco “Sofia”. Após dez dias de quarentena, foram trazidos para Santa Cruz, a bordo do patacho “N. S. da Penha”. Essa foi a primeira imigração italiana para o Brasil. Santa Cruz já havia se tornado o berço das imigrações
portuguesa e africana.

Houve um desentendimento entre Tabacchi e os imigrantes, e após rebelarem-se, espalharam-se pelo centro-norte-sul do Espírito Santo, criando várias cidades e municípios. Em 1875, uma segunda leva de imigrantes chegou no navio “Rivadávia”, mas foi com a terceira leva, chegada no navio “Columbia”, em 1877, que o Presidente da Província, Abreu Lima, fundou no sertão, o Núcleo Colonial “Santa Cruz”, para italianos, para o qual nomeou o General Aristides Guaraná como Diretor.



 
Foto antiga de Vila de Santa Cruz


O núcleo mudou de nome várias vezes até tornar-se Ibiraçu, de onde os italianos se espalham para o norte do município de Aracruz, com a construção da linha telegráfica Vitória-Linhares. O progresso continuou e, em 1891, Riacho e Ibiraçu se emancipam de Santa Cruz. Ribeirão (Guaraná), povoado do Distrito de Riacho, torna-se também distrito em 1911.


No período nacional-desenvolvimentista (1930-64), o município de Santa Cruz definhou na periferia da capital Vitória. Em 1930, é construída a Iº Igreja Católica, em Barra do Riacho. Para evitar a falência do município de Santa Cruz, o então Município de Riacho, com seu distrito Ribeirão, retornam ao município-mãe em 1931, após 40 anos de separação.



Em 1940, Armando Lobo, filho do Prof. Antônio da Rocha Lobo, completa em 30-07-1940 a doação de mais 20 hectares, somando-os aos 30 já concedidos por seu pai em 1912, constituindo-se no patrimônio de Barra do Riacho. Em 1942, foi construída a primeira Igreja Batista de Barra do Sahy, que originou outras igrejas mais tarde. Em 1944, a Companhia Ferro e Aço, de Vitória (COFAVI) recebe concessão do Governo Estadual e desmata de Aracruz a Barra do Riacho. Em 1963, vai à falência e os lenhadores e carvoeiros, por falta de indenizações, tornam-se posseiros de “seus” terrenos.



Em 1943, pelo Decreto-lei Estadual nº 15.177, a cidade, o distrito e o município de Santa Cruz, passaram a chamar-se Aracruz, que significa “pedra do altar da cruz”. Cinco anos depois, em 1948, a Resolução nº 1, da Câmara Municipal decidiu a transferência da sede do município para o povoado de Sauaçu, mas, devido à resistência dos moradores de Santa Cruz, a transferência ocorreu de fato em 1950, tendo o Prefeito Luís Theodoro Musso surpreendido a todos de madrugada, comandando em bando de cavaleiros armados, os quais carregaram os documentos municipais, episódio conhecido como “o roubo da Sede”.

Vista aérea da vila de Barra do Riacho. Aracruz, ES, 14 de junho de 1950. 
Vista aérea de Vila de Barra do Riacho, em 14 de junho de 1950, durante visita do Engenheiro Luiz Edmundo Appel.

Veja relato escrito em seu diário de bordo quando esteve no Espírito Santo:

"Levantei às 6. Após o café, seguimos para o Aeroporto. Às 7,30 levantou vôo o “teco-teco”, no qual seguíamos em nossa missão final, neste Estado. Às 11,30 estávamos, de volta, no Aeroporto. Atravessamos todo o norte do Estado, e chegamos à fronteira baiana. Descemos na praia próxima ao riacho Doce (q. é a linha divisória interestadual). Foi boa, a viagem, e sem percalços de espécie alguma. Colhemos algumas observações interessantes. O aparelho, aparentemente frágil, não comportava mesmo, nem mais uma palha… À tarde, após o almoço, tirei uma “soneca”. Fiz algumas compras; aguardei a hora do banho e janta. À noite, com Paulo e Cláudio Cavalcanti, fui… até a praça Costa Pereira, pois não há outro lugar para se ir, aqui. Voltamos às 21,30. Então, dormir. Continuo à espera de notícias da noivinha, e… nada!…"


Em 1957, foi criado o Ginásio Sauaçu, baluarte do ensino que deu origem à atual FACHA. O progresso das serrarias e desmatadores, fez circular dinheiro, comércio e empregos na nova cidade de Aracruz, para onde veio o Banestes em 1962.



No período da modernização dependente (1964-1990) o município sofreu os vários impactos da vinda da Aracruz Florestal, e melhoramentos ocorreram na cidade como: Fundação do Hospital São Camilo, a construção da COHAB – Vila Rica, a nova Prefeitura e outros. Em 1972, nasce a Aracruz Celulose e é feita a sagração da Igreja Católica Matriz.



Em 1973, incentivado pelos  *Tupinikim Alexandre Sizenando e Benedito Joaquim, que reclamavam da perda de sua identidade cultural, o índio Juruna Itatuitim, Delegado da FUNAI, faz o reconhecimento dos remanescentes Tupinikim de Caieiras Velhas, Irajá, Pau-Brasil e Comboios e, assim, começa a luta pela demarcação das terras, que vai durar 25 anos até à solução definitiva. Em 1976, o jovem José Sizenando, de apenas 17 anos, é eleito cacique da principal aldeia Tupinikim, Caieiras Velhas, e inicia a luta em 1979. De 1975-78, foi feita a montagem da primeira fábrica da Aracruz Celulose e, em 1978, começa o funcionamento da fábrica, produzindo e exportando polpa branqueada de celulose para o mercado internacional.

      
                                                          * Pajé Alexandre Sizenando
                                                                   Século Diário

Gazeta online (11/03/2010 - 17h59 - Erik Oakes )
Alexandre Sezenando, o Pajé Tupiniquim Guaratã, faleceu no início da tarde desta quinta-feira (11), às 13h23. Um dos mais antigos mestres de congo do Espírito Santo, Guaratã morreu aos 94 anos.

 
Fábrica da Aracruz Celulose hoje Fíbria



 

Barra do Riacho em 1978
Foto blog Obarrense


Em 1980, os moradores de Barra do Riacho fundaram sua associação comunitária, a ACBR. Em 1983, foi criado o distrito de Jacupemba e, em 1985, surge o movimento de emancipação da Orla de Aracruz. Para evitar a separação, o * Prefeito Heraldo Musso anexa, em 1990, a área da fábrica ao distrito da Sede, abortando o distrito de Barra do Riacho, já aprovado pela Câmara Municipal de Aracruz, e que tramitava na Assembléia Legislativa do Espírito Santo, faltando apenas sua homologação pelos deputados. Tal projeto de emancipação distrital fora atropelado pelo processo de emancipação, de 1985, que tinha prioridade.


 
                                                           * Prefeito Heraldo Musso
                                                             Imagem Folha do Litoral


Em 1985, foi realizado o Iº Encontro Indígena do Espírito Santo, em Barra do Riacho, pelo * Prof. José Maria Coutinho, presidente da ACBR, dando início à revitalização cultural dos Tupinikim e Guarani, com mais dois encontros em 1989 e 1990, onde, várias organizações não-governamentais vieram prestar serviços aos indígenas.


 
                                                          * Prof. José Maria Coutinho

                                                    Imagem http://thiagoribaze.blogspot.com.br


No período da globalização subordinada (1990 – hoje), o Município de Aracruz viu a Aracruz Celulose ser duplicada, construindo mais duas fábricas (B e C) e expandindo sua importância, conquistando ainda mais o mercado internacional. Também vieram para o município a Canexus e a Degussa / Bragussa e outras empresas, também localizadas em Barra do Riacho.


Fontes:
PMA Prefeitura de Aracruz
Portal TK1
Gazeta online
www.morrodomoreno.com.br
Blog Obarrense
Blog Thiagoribaze
Jornal Folha do Litoral
Portal Guandu
Blog Eng. Luiz Edmundo Appel
IPHAN
Blog imperiobrasileiro
Blog guiadeturismo




6 comentários:

  1. Se alguém tiver algo a acrescentar sobre o assunto, adoraria compartilhar de mais informações...
    Grata,

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  2. Isto ai Angelica, parabéns por ajudar a divulgar a nossa história!!

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  3. parabéns pela historia angélica. muito me comoveu, porque tambem tive a oportunidade de ver a casa aida de pé e intácta, quando era pequeno. eu é que ti agradeço pela matéria e poder voltar ao passado. passado este que éramos felizes e não sabíamos.
    há 9 horas · Curtir

    Luizcarlos Rocha Que Deus ti abençoe e possa continuar a lhe dar inspirações e continuar com esse exelente trabalho. mais uma vez, meus parabéns...
    há 9 horas · Curtir
    Angelica Rangel Então Luizcarlos Rocha, eu agradeço pelo seu comentário, adorei saber que assim como eu também esteve lá enquanto nós éramos ainda apenas crianças. Essa matéria é dedicada a todos que de alguma tem algo em comum com aquela casa e também aos...
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    há 9 horas · Curtir

    Luizcarlos Rocha Cara amiga. foi muitíssimo emocionante paramim, pois a tempo queria saber se alguém pudesse ter acesso a fotos que são relíquias para nós. Então quando menos espero, vc posta esta matéria que realmente olhando para aquela casa, pude voltar ao nosso querido passado que não volta mais!!! obrigado!!!
    há 7 horas · Curtir
    Angelica Rangel Que bom que gostou caro amigo, obrigado!
    há 7 horas · Curtir

    Luizcarlos Rocha eu é que agradeço e que Deus ti abençoe mais e mais...
    há 7 horas · Curtir

    O Amigo Luiz Carlos Rocha deixou esse comentário no facebook, só trouxe para cá...

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  4. Gostaria de mencionar que essa matéria só foi possível, porque há anos atrás o nosso querido Profº Cotinho pesquisou e publicou livros, relatos, e artigos sobre Barra do Riacho. Todas as fontes hoje se baseiam em seus escritos.
    Obrigada Profº Zé Maria...

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  5. Essa matéria também ofereço em Homenagem a Nossa Querida Aracruz que está completando 164 anos...

    Parabéns ao povo Aracruzense.

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