Desde que criei o blog minha intenção inicial era tentar rever um pouquinho da história de Barra do Riacho, baseado em relatos, fotos, pesquisas, entre outros. O momento que estamos vivendo hoje já vivemos no passado e a história se repete numa outra época. Hoje não podemos dizer que não conhecemos Barra do Riacho, estamos vivendo na era da tecnologia avançada, da comunicação e da internet. Nesse caso seria quase impossível dizer que não se conhece Barra do Riacho. Mais sei também que dá um pouco de trabalho, pesquisar, perde-se tempo (será mesmo?).
Então voltemos a intenção inicial e vamos "reconhecer" nossa Barra do Riacho . Gostaria que as empresas que estão chegando, os empreendimentos grandiosos, parassem um pouquinho e lessem pelo menos um pouquinho de nossa história. Queremos sim que o progresso chegue, porém que chegue da melhor forma possível para ambos empresas X comunidade. Conheçam um pouquinho de nossa cultura, nossas riquezas, nosso povo, tenho certeza que nos tratarão com mais respeito.
Quem é morador de muitos anos ou é filho de Barra do Riacho conhece bem essa casa. Muitas vezes eu quando ainda era criança, visitava a Casa Grande também conhecida e explorada por nós crianças como a "Casa Assombrada". Quantas histórias engraçadas, de aventuras, uma delícia.
É uma pena que permitimos que nossa cultura nosso patrimônio histórico se acabasse com o tempo. Hoje se ainda existirem são apenas vestígios dessa que um dia já hospedou o imperador D. Pedro II em 1860. Houve quem já se preocupasse e se dedicasse a Barra do Riacho um dia e essa pessoa chama-se Dr. José Maria Coutinho (in memorian).
Imagem Site www.morrodomoreno.com.br
Imagem Portal Tk1
Imagem de www.morrodomoreno.com.br
Quando eu conheci a "Casa Assombrada" ela ainda era assim.
Hoje infelizmente nossos filhos a vêem assim...
Imagens do site Portal Tk1 de Aracruz.
Barra do Riacho
22/11/2011
A Barra do Riacho originou-se basicamente de uma das três grandes fazendas que havia nas proximidades do Rio Riacho, surgidas com a criação do Município de Santa Cruz, que abrangia aquela região. Em 1848. Esta fazenda, que se chamava Flor da Barra, começava na saída norte da (atual) Barra do Riacho e ia até o Córrego das Minhocas, na Praia das Conchinhas, sendo sua sede um casarão na foz do Rio Riacho.
A casa grande de uma das outras fazendas, a Mercantil, de Luís de Mattos, hospedou o imperador Dom Pedro II em fevereiro de 1860. O monarca estava fazendo uma visita à Província do Espírito Santo e percorreu praticamente toda a orla marítima do Município de Santa Cruz.
Imagem site www.morrodomoreno.com.br
Em 1912, como havia muitos posseiros ocupando a área em torno do pasto da Fazenda Flor da Barra, seu proprietário, Antônio Lobo, resolveu doar aquelas terras a seus ocupantes, num total de 30 hectares. Estava criado o povoado de Barra do Riacho. Em 1940, o filho-herdeiro de Antônio Lobo, Armando Lobo, doou mais de 20 hectares.
Vejam o que o Imperador D. Pedro II anotou em seu "caderninho" quando passou por Barra do Riacho:
Prosseguem os apontamentos do monarca:
Vi na praia de Santa Cruz o navio de ferro em que o França Leite navegou a vela o rio Doce até [Fransilvânia]; agora deve pertencer ao governo e talvez se possa aproveitar alguma cousa.
Em 1858, o presidente José Francisco de Andrade e Almeida Monjardim consignara, em relatório: “Hoje, o mesmo iate fez a viagem daquela Colônia a esta cidade [Vitória] com a maior brevidade, para o que concorrem a facilidade das correntes do rio e o conhecimento e prática adquirida naquela exploração.”
E prossegue S. M. em suas notas:
Na praia, por onde andei, tem lugares cheios de fucê, e alguns pareceram-me curiosos, sentindo a estreiteza do tempo para examiná-los.
A areia atira para cor de rosa.
Depois vêm os riachos Tacipeva, Timbotiba e Saí, onde há vau [em] vazante; encontrei aí o Matos, dono da casa do Riacho onde me hospedo; é falador mas parece bom homem; nunca saiu quase de seu sitio, o que não admira num capixaba. 5h.
Enquanto Biard, ao beber o cauim numa cuia para captar a simpatia dos índios que pretendia pintar, considerou o gesto como um holocausto à arte, o imperador deu mais uma prova de sua simplicidade:
Quis provar a cauaba ou cachaça dos índios numa casa destes junto à foz do Saí onde se encontra a tal bebida; mas não a tinham. Dizem que é má, sendo feita de mandioca mastigada, que fermenta, tornando-se mais tolerável o cauim feito de milho; contudo o José Marcelino disse-me que a cauaba com açúcar era boa limonada refrigerante.
A viagem continuou a cavalo até a barra do Riacho, onde D. Pedro II se deteve o resto do dia (precisamente seis horas) para um descanso:
Riachos Piranema, Água Boa e o Minhoca, cuja saída quase que só tinha areia. Logo depois tomei à esquerda por dentro sempre ouvindo a pancada do mar e às 5 ¾ avistei a barra do Riacho depois de ter visto pouco antes a casa de sapé toda arruinada dum fulano Fuso onde se hospedou o Pedreira segundo disse o Matos.
6 h chego à casa do Matos, de sobrado e sofrível no alto duma colina verde de onde domina o Riacho que lhe corre perto; a vista não é feia.
O coronel Joaquim Ribeiro Pinto de Matos era o aludido proprietário da fazenda Santa Joana, cuja casa, assombrada, situava-se numa colina e que fora escolhida para a hospedagem.
Em 1912, como havia muitos posseiros ocupando a área em torno do pasto da Fazenda Flor da Barra, seu proprietário, Antônio Lobo, resolveu doar aquelas terras a seus ocupantes, num total de 30 hectares. Estava criado o povoado de Barra do Riacho. Em 1940, o filho-herdeiro de Antônio Lobo, Armando Lobo, doou mais de 20 hectares.
Por volta de 1930, Barra do Riacho já contava com cerca de 150 habitantes, destacando-se as famílias Azeredo, Alvarenga, Souza, Leal, Bandeira, Pimentel, Matos, Andrade, entre outras. Conta o historiador José Maria Coutinho que “nessa época, não havia carros nem estradas, apenas caminhos abertos a foice ligavam Barra do Riacho com outros povoados e toda viagem era feita a cavalo ou a pé. Os doentes eram transportados em redes”.
O pai de José Maria, José Coutinho da Conceição, passou a morar no progressista povoado por volta de 1932, dedicando-se à agricultura e depois ao comércio. José Coutinho também ajudou a desbravar a região e levar melhorias, como estradas e pontes, principalmente durante seus dois mandatos de vereador (1946 a 1954).
Conta seu filho: “Barra do Riacho ganhou as estradas que a ligam com a Vila do Riacho, Pau-Brasil e Barra do Sahy, tendo o vereador comandado os índios e caboclos na abertura da estrada, a foice, machado, facão, enxada e enxadão. José Coutinho foi também responsável pela construção das pontes sobre os Rios Sahy e Gemunhuna e do primeiro cemitério. Além disso, liderou a construção da Igreja de São Sebastião três vezes.
Com o desenvolvimento maior de outras regiões do município, na década de 50, a Barra do Riacho também entrou em decadência econômica e perdeu poder político, agravado pela morte de José Coutinho, em 19/8/57, e de sua mulher, Amália Del Santo Coutinho, em 1963. Mesmo assim, elegeria vereador o major Otto Netto (1955-1958) e José Souza (1973-1977).
A Barra do Riacho voltou a ganhar destaque a partir de 1976, quando foi literalmente “tomada” pelos milhares de operários que trabalhavam na construção da fábrica da Aracruz Celulose, a cerca de um quilômetro ao sul da vila. A fábrica entrou em atividade em outubro de 1978, construiu seu porto exclusivo pouco depois e foi ampliada cerca de dez anos depois, duplicando sua produção e se tornando a primeira fábrica de celulose do mundo.
Como Barra do Riacho recebeu muito pouco dos benefícios deste progresso e praticamente todos os seus problemas, nos últimos dias de agosto/80 surgiu a ACBR (Associação Comunitária de Barra do Riacho), fundada por José Maria Coutinho e Jurandir Ângelo.
Como efeito maior do trabalho de conscientização que José Maria já vinha liderando desde dois anos antes, a ACBR conseguiu fazer com que o lugar ficasse “com cara de cidade”. Os moradores passaram a ter confortos que até então desconheciam e se tronaram uma das comunidades mais politizadas do município.
Tanto é que voltaram a eleger vereadores a partir de 1989: Waldyr Vieira exerceu dois mandatos (1989-1992); Pedro Tadeu Coutinho, filho de José Coutinho da Conceição, idem (1993-1996 e 1997-2000); Marcelo de Souza Coelho (1997-2000).
Fonte: Faça-se Aracruz! (Subsídios para estudos sobre o município),1997
Organizador: Maurilen de Paulo Cruz Compilação: Walter de Aguiar Filho
Retirado do Site: http://www.morrodomoreno.com.br/materias/barra-do-riacho.html#
Obrigada.
Bom dia me chamo Francisco Eduardo Martins Leal sendo neto de Theodorico dos Santos Leal e sobrinho neto de Herculano dos Santos Neto. Estive em viagem introspectiva em junho de 2019 por horas visitando Barra do Riacho e a Vila do Riacho na qual fui acompanhado por Pedro Nascimento longevo morador da Vila o qual mantinha relações com meus tios Mauro e Pedro. Já com meu pai Wilson de Araujo Leal pouco teve em função de mais de 10 anos de diferença de idade entre os dois.
ResponderExcluirO melhor da viagem de mais de 1100 km, foi o prosear de testemunho viva da história da Vila do Riacho e seus protagonistas. Agradeço do coração as horas que o Sr Pedro me disponibilizou com tanto carinho.
O comerciante Jorge que me apresentou a Pedro e outros moradores também agradeço a acolhida.
Angélica Rangel muito boa sua iniciativa, está de parabéns !
Muito bom, por muito tempo procurei saber sobre a barra do riacho onde nascir e cresci e onde moro atualmente,e fico feliz por saber um pouco da história da minha cidade. Pena q o estado não se preocupou em preservar a casa assombrada né q fez parte do nascimento de barra do riacho, mas mesmo assim foi um ótimo trabalho que vc fez em pesquisar e contar sobre a história desse lindo lugar.
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